terça-feira, 19 de maio de 2015

Outras marcas

Ofertada a Felipe Pimentel

Te alimentas, companheiro
Daquilo que te distingue dos outros passageiros:
A compreensão do imposto absurdo
Dos labirintos escuros que nos conduzem aos anjos
Para depois roubar os nossos sonhos.
Sem falar nas muralhas ostensivas da vitória
Que nos obriga a vigilância implacável e perversa
Mesmo nos instantes eternos da aurora

Leio nos teus versos a sua fome de justiça e admiro o que vejo;
Um espadachim sangrando, cada corte um torpe sente gole... eis o mel
Será esse o dervixe de passagem,
Ou a assinatura rendida no fio da navalha?
Blasfemar contra a moral,
Revelar o quanto ela é suja e regida
Por homens piores que o próprio mal.
Sim, alguém tem que fazê-lo...

Na tua louca e sedenta
Fuga desse que é nosso mundo,
Você alimenta, meu amigo
Essa tristeza tamanha...
Que por vezes é também doce melancolia,
Tão bela que significa seus desajustes nas dores do silêncio
E engrandece suas feridas com a foice da palavra.
Odiar é o caminho mais fácil, há que se ter muito cuidado
Para ao abrigá-lo não tornar-te parte do que tanto abomina.
Mas intuo, como quem se encontra na alma de outro alguém,
Que eres chama ardente na flama verdejante das noites cinzentas
E isso alegra a minha esperança.

Quero ver mais que a sua notável inteligência,
Pra desdenhar em genealogias a história já escrita.
Meu convite, companheiro, é para nos teus versos compartilhar
O melhor que for capaz de sentir. Todo amor que puderes dar.
E cantar comigo que é nosso tempo, a nossa vez, a nossa hora!
Outros poetas nos ensinam que é tempo de cuidados, meu amigo
Sendo o medo, a raiva e as feridas péssimos conselheiros na hora de plantar o novo mundo.

Sementes, água, amor e um pouco de Fé, em si e nos que estão dispostos a dar as mãos nessa ciranda; A tarefa dividida, como cresce, como anda...
Não sei se ainda recordas, mas na mesma infância que nos marcaram o horror da mentira e da normatização, eramos magos que domávamos dragões, compartilhávamos magias e nos reuníamos para falar de Gaia, Mana e outras formas de viver.

Eu só queria te lembrar que nunca estamos sós, companheiro.
Te ofertando meu abraço em oração e poesia.
Apenas te lembrar...
Que recordações são estrelas guias dos nossos corações.
E que chorar também é luz.

Montevideu
18/05/2015
Pietro Pascoli