quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Deprimido

Estar deprimido, que grande presente!
Assim, distante, calado, tomando vinho no que restou de um pequeno copo de pinga, limão e mel, paquerando uma antiga máquina de escrever ao som de uma vitrola vermelha.

As pessoas em volta notam, estranham e contribuem.
E então você escuta, sem a fortaleza das convicções, os ensinos, como quem oferta a chuva os conflitos da alma.
Alguém recita com elegância uma poesia sobre a dor, tornando o abismo mais bonito.
Uma teoria nova te procura, explicando a sutil diferença entre o amor e a ilusão. Você não compreende a totalidade, mas já que veio de um amigo Duende, vale tanto quanto um belo poema escrito a lápis em algum estribilho antigo.

E o feio vai se tornando belo.
Nuvens, medos, árvores tortas e estranhas, tempestades,
Tudo parte de uma grande novidade,
Que proporciona um novo olhar...
Aí o coração amanhece cheio de saudade e tristeza,
E você se deixa levar por ele.
O que pode ser mais importante que o amor?

Se não há sentido pra vida,
Que pelo menos eu possa vive-la assim,
Perto de quem desperta,
O melhor de mim.

Alma nua

Alma nua


Mas nada acaba meu amor!
A vida continua...
Quem deixar a alma nua,
Saberá recomeçar

Pra que abrir as portas?
Podemos deixá-las sempre abertas.
Se nada é definitivo,
Que nos seja incentivo
Pra alegrar o caminhar

E se um dia precisar de um colo, uma morada
Em mim terá abrigo
Lembraremos de algum belo domingo
Em que estivemos juntos a sonhar

Talvez um dia lá na frente
Depois de vagar errantemente,
Semeando amor sem direção
Me canse da marcha cega,
E pinte arrependimento
Por saber que ninguém será capaz
De com apenas um sorriso
Me encher de paz

Então o amor terá valido
E poderei contar
Daquilo que venceu o medo, a distância
E a própria vida
Porque

Nada acaba meu amor
A vida continua
Quem deixar a alma nua
Saberá recomeçar

Iluminações diárias

Iluminações diárias


Uma vida por recomeçar
Uma estrada pra se escolher
Um velho amigo pra cantar
Um grande amor para viver

Ver além do que existe
Ver além do que há
Não deixar que catequizem o verso
A marca do seu caminhar

Iluminações diárias
Domingo ou sexta feira
Iluminações diárias
Domingo ou sexta feira
E a dor se vai...

Se lhe trouxer esta canção
Uma dor empolgante
A travessia do rio
A fuga do instante
O teu erro brilhante
Sinta sol
Seja sol

Pés descalços, mar aberto, vida incerta...

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Afirmar um valor

Depois de pensar o amanhã
Beijar o desconhecido
Morder a maçã no escuro
Bobagem almejar futuro
No escuro! Futuro!

Há algo por mudar
Fugaz o curto sonho da vida
Há algo pra mudar
Fugaz o curto sonho da vida

Após entender o passado
Desejar beber o inesperado
Devorar as migalhas do presente
Sentir tudo aquilo que sente
Presente! Se sente!

Calar a mente inundar coração enxergar a razão
Olhar pra cima semear um grão elevar vibração
Afirmar um valor
Afirmar um valor

Ode a inteireza

Ofertada a Alexandre Magno Abrão (Chorão)


O sopro do vento que preenche o corpo vertiginosamente...
A derradeira vontade que sobrepõe o ideal.
O verso perdido, o tormento presente, a angústia vivente.
A barriga da mãe, o som do tambor, o registro do amor.
Também as ruas da cidade...


Os cheiros, as cores, os sexos dos selvagens.
O brilho no olhar que carrega quem ama o que faz.
O arrependimento, a entrega, a lealdade ao espírito.
Estradas, calçadas, buracos profundos...


Doar amor, dar as costas pro mundo.
Reconhecer no teu servo, a maestra humildade.
Entender que nada é definitivo
A vida, a saudade...


Vomitar palavras, sem temer as consequências.
Entregar-se a vida! Se dispersar da ira – compaixão, gratidão.
Estar só por integridade, pela verdade, pela missão.
Ser poeta, Zé ninguém, celebridade,
Tanto faz...


Ode a inteireza


Teatro Castro Alves
Durante a peça Pólvora e Poesia

Algo se perdeu

Algo se perdeu


Será possível, sentir e escrever a precisão imensurável do instante,
E depois, num gesto estúpido e inconsciente, não deixar nenhum registro?
"O que apagou está apagado", disse um velho amigo.
O amor? Guardo luminoso, alegra o meu viver!

Não, não se pode recuperar aquela poesia.
Ainda que eternizada e registrada no meu ser,
Se foi tal qual criança seduzida por um novo brinquedo.
Será alguém capaz de sorrir como ela?
Desejo que ela seja feliz.

A solidão outra vez...
Fito as sombras das árvores,
Talvez peça licença para roubar algum fruto.

À margem do caminho,
Zumbindo a grande velocidade,
Um pássaro perdido com endereço certo.
O véu azul claro revela a noite,
No compasso em que dança um mendigo solitário,
Esbravejando doçuras e sonhos esquecidos.

Cumpro meu dever!
Opor-me a um mundo imbecil e sórdido,
É trabalho que realizo prazerosamente.
O espírito se enobrece cristalino,
Jesus tinha razão! A verdade liberta!

Grande cilada

Grande cilada


Fizeram do amor verdadeiro uma grande cilada
O pertence, a prisão, a mentira contada
Enterrar o tesouro pra dizer que é só seu
É só meu! É só meu! É só meu!

O caminho inverso, a corrente do verso
Transformar o amor em ouro de tolo
O padrão, o clichê, a receita do bolo
E quem resistiria a não entrar na dança?

A mente mente

A mente mente


A mente mente! Disse certa vez uma sábia mulher...
Me enxerguei desorientado, clamando pra todo lado, minha própria prisão.
Feito desenho animado, trágico castigo,
Quando o personagem tenta libertar-se das correntes da escola,
Dos pais e da sociedade,
Adormecendo o próprio ser.

Foi então que despertei para um novo ensino:
Aquilo que tu negas se apropria de você.
O que você aceita é que te abre os portais da transformação.
Passei então a dominar minha mente da forma mais simples e óbvia possível:
Com a energia do coração.

Quais são as armadilhas que a sua mente utiliza para te distanciar do seu ser?
O coitadismo, a vitimização, a vaidade, a inveja, o medo, a preguiça...
São muitas as formas!
E se disfarçam, inclusive em gestos bonitos e euforia.

Mas nós temos a verdade do nosso coração.
É preciso tocá-lo, senti-lo!
Como um menino, que brinca e se entrega.
Não adianta se deixar levar pelos vícios,
Pelas compulsões e pela sede visceral se estiver buscando paz.

Mas, confesso! Outras coisas podem ser encontradas.

Meu Pai

Meu Pai


Meu Pai
És um grande menino
Traz consigo ensinos
Sobre o Bem e o mal

Como respeito lhe ofereço
A minha desobediência
É uma das formas
De encontrar-me em você

Ô meu pai!
É chegado um novo tempo
De abrir o teu coração
Pra leveza do dia

Calma!
Acalma o teu coração
Com o seu menino que sente
E canta
A beleza da vida

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Me despeço (até logo)

Me despeço (até logo)


Caminhava sozinho no deserto do silêncio...
Sol a pino e tudo escuro dentro de mim,
Tal qual cambista da festa dos cegos do castelo.

Firmar o seu lugar no astral exige limpeza,
Purificar pensamentos, energias e, acima de tudo,
Confiar na verdade que carrega no próprio coração.

Nada fácil renunciar a uma vida errante...
São intensos os prazeres da libertinagem.
Enfrentar a profunda dor de reconhecer
O quanto esteve distante de si mesmo.

Sabia que sentiria saudades também dos outros errantes
Com seus defeitos escancarados, aprendi a amar cada um deles.
Mas é justamente em nome desse amor que me despeço,
Ergo a cabeça, sinto o novo tempo e sigo meu novo caminho.

Semear gratidão para que os sonhos possam florescer...

Viajou legal!

Viajou legal!


Viajou legal! Esqueceu há tempo, do tempo
Aquele instante mágico, que alguém atende ao suplício:
- É isso, escolher isso.
Conexões de vivências, de si e do outro
Transcendem passado e futuro, simplesmente se unem
Deu-se conta, sonhando, das portas que se abrem por uma escolha
Incrível obviedade foi descoberta, tal qual a sede e a fome

Talvez errar diferente seja a saída...
Desconhecer o caminho,
Inocenta a alma.

Sinesius


Sinesius,
Solitário bem quisto de uma prisão velada,
Portador das chaves que abrem grades inusitadas,
Zelador de sonhos indigestos que mudariam o mundo.


Sujeito forte, dono de virtudes violentas,
Dualidades secretas que desdenham o bem e o mal,
Quando manifestas em sua calma inquietante...


Símbolo da covardia humana, da cegueira que tudo vê,
Do fracasso da academia e também do pior que existe em você.
Marco da esperança que rege encontros e produz luz.


Há amor onde houve morte,
Sorte rondando rastros imundos,
Odores fétidos por toda parte...


Sinergia que encontr´arte


Juliano Moreira
Durante apresentação do Bando Flores da Massa

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

De olho no alvo

De olho no alvo


Sempre tem alguém...
Desejando ser salvo!
Sempre tem alguém...
De olho grande no alvo!

Hoje o dia terminou diferente
Fitando com amor a razão
Da solidão
Caminhou até cansá-la
E rir pro caminho

Passou pelo mar...
E agradeceu!
Passou pela lua...
Provou do seu mel

Se tornou a própria passagem
O dia, a arte
Quando perdeu...
Sua identidade!

Suspiros de vida

Terminou o dia capturado
Olhando no fundo dos olhos
Da solidão
Não se achava capaz
De atravessar o caminho

Depois de andar até cansar
Sem prestar atenção
Passou pelo mar...
Mergulhado em si
Passou pelo sol...
Nem agradeceu

Procurava por toda parte
A passagem
Do dia a arte
Em vão...

E amanhã,
Suspiros de vida?

Sair após entrar

Sair após entrar


Escutei proclamarem o medo do futuro:
Quem sofreria as consequências,
Sedentos ao caminhar no escuro.
Falavam de fazer escolhas, planejamentos,
Ter segurança por onde andar
E o abismo, libertinoso e divino, a me chamar...

Presenciei os deleites egoicos da academia,
Deixei-me capturar pelas nuances de seus pseudos intelectuais.
Devorei os olhos dos anormais, prostitutas e mendigos,
Fiz dos seus desajustes meu abrigo.

Será possível,
Um beijo doce numa linda boca
Deixar a alma suja?
Será que pode,
O belo encanto que celebra o encontro
Fazer da mente imunda?
Desesperos de quem foi a igreja buscando paz...

No fim das contas não há caminho errado ou certo,
Há quem prefira ser abandonado que abandonar.
Liberta-se quem de vários mundos for capaz,
De sair após entrar...

O excesso faz mal

O excesso faz mal
Caminha orgulhoso escolhendo as estradas
Crescendo os olhos sobre os vales verdejantes
Dono de tudo que lhe parece distante
O sorriso mais frio, contagiando o vazio, a dor, o estio

Outrora, partiu, alguém foi embora
O medo, gaiola, mudança, aurora
O surreal a espreita de uma velha gaveta
Há e sempre haverá ar que inspira excitante
A escolha errante
Dentro do que você quer agora

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A gente troca essa idéia

Firmar o pensamento onde o medo não puder alcançar...
Silêncio. É preciso escutar os caminhos.
Germinar territórios esquecidos...
Beleza, a gente troca essa idéia.

Caverna da torrinha

Caverna da Torrinha, Lençóis
13 07 13


Sem nenhum saudosismo,
Fazer valer a existência!
Sentir-se natureza
Retornar a caverna
Sentir-se o que se é

Coração aberto
Aquém do tempo
Um presente:
Viver

A descoberta,
Caminhar sem angústia
A cada passo,
Compor a história

Renascimento

Renascimento


Renascimento minucioso, luminoso
Como o devir de uma melodia, o abismo do laço
A pegada do rastro que descobre novos vales

Construir a trilha com os pés descalços,
Dar amor a inchada, sonhos ao incerto
Proteção a quem queria, firmeza na oração

Já vem outrora, no furo do presente, nova aurora
Chover no deserto, florescer loucura, antídoto, cura
Adeus, adeus censura

Entregue a correnteza...

O fim e o começo
Ambos são casas
Onde vivem o avesso
Dor e alegria

Há recomeço
Mas não há saída
Pra quem fez morada
Na própria ferida


Garganta do diabo
Chapada Diamantina

Bêbado iluminado

Bêbado iluminado


Bêbado e iluminado, meu pai disse certa vez:
- Não vivemos Hiroshima, não vivemos Nagasaki.
- Somos privilegiados, desprezamos a vida.

Ao chorar, sentiu...
O quanto a vida é boa.

Eis que meu coração pediu um novo canto!
Olhei pro passado, sonhei o futuro
Duas pessoas caminhavam juntas,
Tantas pessoas caminhavam juntas...
Então sorri, me chama docemente o presente

Vamos dar as mãos?

A desejada vadia

Sua liberdade, sua angústia.
Seu vômito, sua sujeira, sua poesia.
E por que não dizer minha?
Pra transmitir o que sente?
Quem se importa?
Tamanha hipocrisia!

A resposta que nunca chega...
A desejada vadia!

Que o amor nos salve.

Outra frequência

Outra frequência


Aberta a porta,
Outra frequência...
Canto dos pássaros,
Barulho de avião.

Longe de casa, dentro do quarto
Outro mundo, Mesmo mundo
Velho amigo, o desconhecido
Prenúncio do eterno
Que se cansou de passar
E nunca aconteceu

Como de mim andei distante...