quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Registro do lado de fora do hospício

Registro do lado de fora do hospício
Capítulo I

Não há decretos.
Abertos os espaços,
Para todos os sons...
O mensageiro da floresta se chama Guriatã.

Tentei chorar e não consegui
Fiquei doente.
...
Em algum lugar alguém era feliz

Construí um planeta de palavras!
O nome dele é Plâncton
Já havia morado nele o Jorge e o seu Bem.
Em Plâncton, plantas, animais e até o bicho gente...
Brilham quando fazem amor.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pé de manga

Pé de manga


Avistou um pé de manga da varanda do telhado.
Só ele e os seus demônios outra vez...
Troncos fortes, lindos frutos e a velha projeção,
Péssimo hábito de pela arte lamber a própria ferida:

Jogou fora o mapa do tesouro
Esqueceu o nome da avenida
Pra quem sabe um dia se encontrar...

É que o plim plim na conta não compra o seu sorriso,
Tanta coisa que é de graça lembra mais o paraíso.
Elogios no trabalho não cessam sua angústia, irmão!
Nenhum reconhecimento vale a cegueira da visão.

O mundo ainda chora e a gente se esconde nos próprios defeitos.
É tão fácil acomodar a vaidade, basta prometer prosperidade!
E há quem se contente em sonhar com propriedades...

De que vale essa estúpida ilusão de grandeza
E não saber pedir licença a natureza?
De que valem as raízes
Quando sobrenomes deixam cicatrizes
Pessoas infelizes
E Cash é sempre o dilema das nossas diretrizes?

Cruza um velho trauma...
Uma idéia se esboça da janela.
Ainda pega o buzu lotado,
Por medo ou opção?

Veja o lado bom da coisa,
Quando se apresenta a lição:
Na solidão do carro,
Não haveria aperto de mão.

Perda sagaz

Perda sagaz de identidade
por não render-se ao canto da sereia
Pra evitar dizer o importante falamos demais
- Dissimulando a culpa do voraz desejo errante

Quero mesmo é comer a vida,
Devorar os meus instantes!
E a quem possa parecer loucura,
o adoecimento é um processo de cura.

Agradeço o meu viver
E dispenso a redenção

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Fechamentos

Fechamentos.
De caixas
Gavetas
Rituais
E seitas
E mentes
Em vão

Intento de prisão
Ao próprio coração

Vida pede

Enxerguei nos olhos ternos de quem sucumbiu à culpa
A vida aprisionada pulsando a tara de quem sonhou perder-se
É que às vezes pra falar com Deus é preciso escolher um caminho diferente
Como pra ser feliz é preciso deixar de lado a idéia confortável de quem se é
Pra ser caminho como a vida pede
E não importa a escolha que se faça
Nem quanto o desejo mede
A vida sempre pede
Vida pede

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Simples

Simples,

Como uma árvore, um fruto, um cais
Tudo aquilo que precisamos,
Pra poder viver em paz

Simples
Como o vento, um momento, o mar
E o tempo que nem existia,
Até alguém inventar

Simples
Sonhos
Raros


Cachoeira da Purificação,
Chapada Diamantina.

sábado, 13 de outubro de 2012

Estado de graça

Estado de graça


Concebido o estado de graça
As pessoas da praça
Se olham a sorrir

E aqui dentro hoje vivo o inverso
A tristeza que sinto
Já nem cabe num verso

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Coisas que stão

Coisas
que stão


Que são?
Conceitos, símbolos, signos, cheiros, ar!
É da ordem da criação desequilibrar.
Que é um poeta?
Um tonto que cala, vaga, pula, grita...

Ensurdece.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Amendoim

Essa é dedicada ao meu amigo amendoim
Passaram tantos anos e nunca te esqueci
Nem preciso dizer o quanto foi foda conhecer o inferno na terra
Quando vi seu sangue derramado na Princesa Isabel
Até então nunca tinha questionado a existência do céu

Lembro bem do brilho que você carregava nos olhos, amendoim
Humanidade como a sua já não vejo por aqui
Talvez um dia a molecada aprenda a dar valor
Pra quem liderava os irmãos da rua
E unia os que tinham casas sem esconder a verdade crua
Carrego comigo o que você me ensinou
Sobre vencer o próprio mal, sobre a importância de ser real
Quando olho no espelho e sinto que evolui,
Até enxergo um pouco de você em mim
Porra! Peço desculpas, demorei doze anos pra escrever
Ainda hoje me fode a sua perda

E o riso me acompanha toda vez que banco o Robin Wood
Roubei mercado e alimentei os nossos enquanto pude
Confesso que ainda não encontrei a minha luta
E às vezes ainda me vejo tal qual vira lata perdido
Mas sem alarde vou cumprindo a missão
Dando a mão quando tropeçam os que ficaram
Imitando você quando se faz necessário
Ainda guardo os garranchos das suas poesias
E prego as portas sempre abertas
Do jeito que você ensinou

Pra quem não sabe do que se trata não custa esclarecer
Essa é só mais uma história do melhor ser humano que já conheci
Poeta vagabundo se chamava amendoin
Salvou mais de cem moleques que moravam nas ruas
Ensinou bem mais que as escolas e abalou estruturas
Bem antes do D2 já bombardeava por todos os lados
Sua arte era pura, não estava à venda no mercado

Mas enquanto fazia as rimas pra salvar os seus esquecia
De cuidar da sua própria erva daninha
E comprovando a lição de que a terra não
É lugar para quem tem pureza no coração
As drogas levaram quase tudo
E a alma se foi quando já não restava o que vender
Porra irmão!
Mesmo assim senti saudade de você
E o amor de irmão segue vivo em mim
Finalmente aprendi o que você dizia sobre a libertação

É por isso que nos dias felizes já nem penso
“Fudeu, o amendoim não está.”
Vai com Deus meu mano
Não precisa voltar.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Juízo de valor

Um eixo
Duas ou mais visões
A madrugada
Diferentes seres habitando os corações
Quanto aos desejos,
Confusas intenções
Colocaram à venda a branca de neve
Surgiram mais de cem anões

Depois perguntam de onde vem a marra
Pedem licença pra entrar sem respeitar as amarras
Querer e não conseguir chorar
Escutar o evangelho e nas palavras nunca se encontrar
Real mesmo é levar a fantasia a sério
Revelações que trazem a simplicidade
Como único mistério

Tenho pensado muito
Nos malabarismos que fazemos no dia a dia
Pra negar nosso próprio juízo de valor
Imersos em tanta hipocrisia
O conflito entre o espírito livre
E as convenções que já estão instaladas na mente, que mente

Juízos de fatos hoje são contestáveis
A visão de mundo foi imposta e ninguém criticou
O tempero que nos torna diferentes fez como o tempo
A brisa do momento e... Já passou!

Vôos turbulentos
Metrô até nos becos
E a malandragem deixou de ser instrumento pra compor
Agora é bolsa família
Minha casa sua vida
Vote em mim
Que eu te dou

E eu só tinha vislumbrado a onda inocente, saca?
Como um de nós sentado numa mesa de bar
Escutando pessoas estranhas
São apenas pessoas
Idéias, histórias
Vivências, memórias

Alguma coisa incomoda. Só a mim?
Você mesmo, que leu até aqui, aflito
Sou eu, você, o mundo?
Quando descobrir, lembra de sorrir!
É aí que mora o conflito
Querer combater é o aviso da sua mente
Ao negar o próprio juízo de valor

Fudeu! Te dominou.